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  Astronomia x Cultura 

Sofia Nardi

 

Muitos filmes, séries e livros tem relação com a astronomia. A cada ano, vemos mais e mais obras tratando do assunto, mesmo que superficialmente. Será que a cultura está abordando com maestria o tema da astronomia?

 

O professor de física Marcelo Breda diz que há uma grande importância em transmitir a informação correta por meio das obras culturais, mas a liberdade criativa da ficção científica também deve ser considerada. "Embora não sejam programas educativos, as pessoas, muitas vezes estudantes em formação, fixam o que veem nos filmes etc. e acabam reproduzindo em provas e vestibulares, por exemplo", observa ele.

 

Ele diz que, olhando pelo lado recreativo, que é o objetivo de muitas obras, não acha que devam retratar a ciência como é. "Creio que devem ter liberdade para fazer da obra o que esperam dela. Eu sou fã de carteirinha de Star Wars, onde não há qualquer respeito à ciência; pelo menos não a da nossa galáxia", conta ele.

 

O professor acha que as pessoas têm dado mais valor para filmes onde a ciência é mais respeitada do que a obras onde ela é tratada na forma de fantasia. Com isso, os cineastas têm retratado a ciência de forma mais intelectual, para atender essa demanda; como por exemplo os filmes Perdido em Marte e Gravidade.

 

O blogueiro de cinema João Solimeo adora filmes e séries que envolvem astronomia. Ele é uma das muitas pessoas que se maravilham com o tema. Solimeo fala um pouco sobre suas impressões sobre os longas e seriados. Afinal, por que as pessoas se encantam tanto com obras culturais que envolvem o universo?

 

Entrevista com João Solimeo

Entrevista com João Solimeo

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O ASTRON participou do 4º evento de Observação dos Astros da Unicamp, organizado pelo Astrolab. Nele, Rafael Leão, que é matemático, e sua esposa, Márcia Leão, palestraram sobre a astronomia, na noite do dia 22 de novembro de 2017. Ao serem questionados sobre as obras culturais que envolvem o tema, concordaram que a cultura não está abordando com maestria a astronomia.

 

"A ideia dessa palestra é tentar divulgar um pouco de cultura científica, que a gente carece bastante aqui no país. Se você comparar com outros países, o Brasil deixa bastante a desejar. A formação, a cultura científica do cidadão médio é bem baixa", conta Rafael.

Foto: Sofia Nardi

No Astrolab da Unicamp, Rafael Leão explica questões sobre o universo

Ele diz que as pessoas se interessam por esse tema porque ele tem relação com perguntas mais fundamentais como, por exemplo: O que estamos fazendo aqui? "Esse é o tipo de coisa que atrai muito a imaginação das pessoas. O céu está aí para todo mundo olhar, é um fenômeno natural que está disponível para todos", completa.

 

Com relação aos erros conceituais, dizem que a maioria das ficções têm um respaldo científico muito baixo. Márcia indica a série Cosmos de 1980, com Carl Sagan. "Interestelar é ficção, mas é interessante. Tem documentários da BBC, tem documentários da Discovery. As coisas da Nasa são geralmente muito bem-feitas. O livro Contato; o filme foi bem feito, mas o livro é melhor. Tem alguns livros de ficção científica, mais antigos, que fazem uma boa pesquisa. Mas ainda é ficção, tem licença poética", conta ela.

O mundo dos livros é tão amplo quanto o dos filmes. O físico e escritor Edson P. Cecilio foi um dos que se aventuraram no mundo da literatura para falar sobre astronomia. Em entrevista para o ASTRON, ele contou um pouco sobre o processo de publicação do livro "Stellarium: aprendendo astronomia com software" e sobre a situação da astronomia na literatura.

Fotos: Sofia Nardi

Edson P Cecilio com seu livro, "Stellarium: aprendendo astronomia com software"

 Edson P Cecilio em seu laboratório, na Unicamp

Entrevista - Edson P. Cecilio
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Foto: Divulgação

Além das obras culturais, a educação de astronomia nas escolas e faculdades é o tópico que mais influência no conhecimento das pessoas sobre o tema. Os professores são grandes provocadores de curiosidade durante nossa formação pessoal. Paulo Bretones é professor da UfScar, escritor, mestre em geociências e doutor em ensino e história das ciências da terra; ele já trabalhou vários anos com a questão do ensino da astronomia e fala um pouco sobre a educação brasileira do tema e a formação dos profissionais.

ASTRON: Qual a importância da astronomia na educação?

Paulo Bretones: Tem dois grandes aspectos, um deles é a questão de entender os mecanismos da natureza; entender o funcionamento dela, os conteúdos que tem a ver com a origem do sistema solar, o movimento dos astros, as suas características e composições. Entender o funcionamento do universo.

 

A outra importância é a questão tecnológica que leva necessariamente a aplicações técnicas, usos práticos da astronomia que são mais ligados a questões tecnológicas, que tem a ver, por exemplo, com o envio de satélites e sondas. E tem uma outra importância, que é o aspecto que tange a filosofia. As pessoas entenderem a importância da astronomia no sentido de fazer uma reflexão enquanto seres humanos. Essa coisa de dizer: O que nós somos? De onde nós viemos? Qual é o nosso tamanho?

 

Somos pequenos perante o universo, mas a gente consegue refletir, consegue pensar o funcionamento dele. O ser humano se coloca como um monte de formiguinhas, que às vezes fica brigando o tempo todo, mas a gente tem uma vida limitada da qual, muitas vezes, não nos damos conta.

 

E é importante do ponto de vista educacional por ser interdisciplinar, embora não seja uma disciplina formal, como as outras. Mas ela tem uma possibilidade de permitir ao aluno se interessar pelo estudo porque ela mistura várias áreas e, muitas vezes, acaba motivando. É uma qualidade importante que precisa ser explorada.(Inserir no meio do texto, em um lugar de destaque gráfico, o olho da frase "Nós somos pequenos perante o universo, mas a gente consegue refletir, consegue pensar o funcionamento dele")

"Nós somos pequenos perante o universo, mas a gente consegue refletir, consegue pensar o funcionamento dele".

A: Como está a situação do ensino da astronomia nas escolas e nas faculdades brasileiras?

PB: No Brasil, por incrível que pareça, tem no currículo formal; o currículo que vem dos parâmetros curriculares nacionais, ou agora a base nacional comum curricular, o programa curricular dos estados. Aquilo que é indicado para que o professor faça no Brasil tem presença de conteúdo de astronomia em ciências e em física também. Não é muito, mas a astronomia tem relativamente uma boa presença nesse material.

 

O grande problema é a formação dos professores, porque eles não têm disciplinas de astronomia e não têm conteúdo de astronomia na sua formação. Então, a maioria dos que são biólogos são habilitados para lecionar conteúdos de astronomia, por exemplo, na quinta série, em ciências. Por conta disso, o ensino fica muito ruim.

 

O Brasil é muito grande, não têm um programa de formação continuada que de conta do país de ponta a ponta. Então, ficamos dependendo de professores que se encantam com o tema, gente que participa das olimpíadas de astronomia... São iniciativas que dependem dos professores, de escolas ou de alguns esforços da secretaria de educação.

A: Na sua opinião, os profissionais de ensino de astronomia no Brasil são capacitados?

PB: A grande massa dos professores infelizmente não. Mas a gente tem muito do chamado ensino não escolar, como por exemplo os planetários. A divulgação da astronomia é muito grande. O marketing da Nasa é tão grande que hoje tem muita gente falando de astronomia. Ela é muito presente na sociedade informatizada, é a área que tem uma das maiores presenças do ponto de vista da divulgação científica.

 

Então você vê que tem desde grandes campanhas, as que a Nasa coloca suas descobertas nos noticiários internacionais, e, ao mesmo tempo, você tem muitas pessoas fazendo canais no Youtube, porque esse conteúdo de astronomia é muito permeável e acessível, o que é diferente das outras áreas.

 

A: O senhor acha que a astronomia é subjugada na educação brasileira? Se sim, qual o impacto que isso causa e como isso poderia ser mudado, na sua opinião?

PB: Nas reformas educacionais sempre teve a presença da astronomia no currículo, naquilo que o governo prevê. Então, os parâmetros curriculares nacionais (PCN) tiveram muito conteúdo de astronomia, que foi de 96, 98 para cá. O que acontece? Não é subjugado sob esse ponto de vista, só que como não tem essa questão das disciplinas ou do conteúdo de astronomia na formação dos professores, vai ficando uma grande lacuna que não está resolvida.

 

É difícil no Brasil, um país como o nosso, que tem carência de formação de professores, de alunos de matemática, de ciência, de história, de todas as grandes áreas, colocar essas coisas em uma grande discussão para a formação de professores em nível obrigatório. Não estão colocados os parâmetros para a formação de professores. A astronomia passa por essa problemática.

 

Temos muitas atividades por aí que têm a ver com astronomia: planetários, observatórios e muitos museus. Tem acesso a informação, mas como é que isso entra na escola? No sistema formal? Como é que o professor é cobrado? Como ele é colocado? Na base nacional comum curricular, que está em discussão agora, os astrônomos têm que entrar em contato com professor de outras áreas na hora de filtrar os conteúdos. É um embate, uma arena, assim como tem astrônomo, tem biólogo, tem físico, tem químico, tem muitas outras áreas para discutir o que é importante ou não.

 

Saber o lugar que o sol nasce, as explicações das estações do ano, isso é importante para as crianças. Então, essa discussão está para acontecer, a base nacional comum curricular na área de física ainda não foi fechada, então os conteúdos no ensino médio ainda estão sendo discutidos, a gente aguarda para ver em que pé vai ficar essa história. Essa discussão é contínua e é importantíssimo continuar.

"Como não tem essa questão das disciplinas ou do conteúdo de astronomia na formação dos professores, vai ficando uma grande lacuna que não está resolvida"

 

Parte do laboratório de Edson P Cecilio, na Unicamp

 

Foto: Sofia Nardi

 

E os alienígenas? Seriam as obras sobre ufologia ficções ou estudos consideráveis? Incontáveis autores escrevem sobre o assunto e alguns até mesmo se dedicam a uma vida de estudos sobre os extraterrestres. O ASTRON questionou algumas pessoas sobre o tema. As opiniões são variadas, mas a verdade continua sendo um mistério.

 Você acredita na ufologia? 

Allysson Ubinha

Professor e escritor do livro de ficção "Os Essenciais"

 

"Uma das perguntas mais comuns e, às vezes, aterradora, é: estamos sós no universo? Há, entretanto, várias e várias respostas possíveis e uma infinidade de outras perguntas. Vou me ater apenas a uma subpergunta (levando em consideração uma resposta positiva à primeira): se não estamos sós, recebemos visitas de alienígenas?

 

Não só acredito que sim como já vi OVNIs. É sempre meio esquisito admitir isso, pois as pessoas, mesmo aquelas que acreditam, ficam com “um pé atrás”, nos olham com dúvida. Não quero provar ou não minhas 'avistações', sei o que vi e o medo que senti em uma delas.

 

A resposta definitiva, não tenho, mas tenho a minha resposta. Ela está guardada em uma lembrança vívida, marcada não apenas através dos sentidos, mas também dos sentimentos que despertaram. Seria minha mente, como tantas outras, apenas uma mentirosa criativa? Pelo que conheço de mim, não. Não estamos sós, e é isso o que sei."

 

Edson P Cecilio

Físico e escritor do livro "Stellarium: aprendendo astronomia com software"

 

"Se você for levar em conta a tecnologia que a gente conhece, realmente é meio complicado. A distância é muito grande, então, mesmo que a gente consiga viajar com uma velocidade muito grande para os caras saírem de onde eles estão só para dar uma aparecida rápida e depois sumir, é muito pouco provável. Agora, se os caras conhecerem uma tecnologia que a gente não conhece, aí pode ser que sim.

 

O duro é que esse assunto é muito aberto. Se formos levar em consideração a tecnologia que a gente conhece, por exemplo, que não dá para viajar mais rápido que a velocidade da luz, então, realmente, seria impossível, seria muito pouco provável que eles viessem visitar a gente. Agora, o problema é que a física não é uma coisa que a gente consegue botar um ponto final. A cem anos atrás, o homem achava que estava totalmente correto sobre tudo e ele não estava. Vai mudando a todo momento. Pode ser que, daqui algumas décadas, a gente descubra alguma tecnologia nova e descobrir que os caras estavam usando isso para tentar se comunicar com a gente, para tentar nos visitar.

 

O grande problema também é que, talvez, o pessoal militar saiba coisas que eles não contam. Eu costumo dizer que nós, meros civis, que não temos poder, a gente não sabe muita coisa de muitos assuntos, não só desse; de saúde, por exemplo, de epidemiologia. Tem coisa que a gente nem tem noção que existe, que está lá guardado no subsolo de uma base militar, o problema é que o governo não divulga informação.

 

Então, tem coisa que a gente não tem acesso. Eu não acredito totalmente e não descarto totalmente; como eu não tenho acesso a todas as informações, eu fico realmente na dúvida. Porque certas coisas não são difíceis de acontecer. Acho que tem informações que o governo faz questão de não divulgar; por que imagina se a gente tivesse certeza que existem outros tipos de seres por aí, muitas religiões iriam sofrer um colapso seessas informações fossem reveladas, então tem muitas coisas em jogo. O ser humano não está preparado para saber certas coisas, ou até tem maturidade, mas o governo acha que não."

 

Marcelo Bredariol

Professor licenciado em química e física

 

"Não acredito em vida inteligente, com tecnologia para atravessar galáxias e chegar na Terra, que é o que os que acreditam em alienígenas dizem que eles fazem. Viajar milênios, chegar aqui e não fazer nenhum contato? Piscar algumas luzes e ir embora? Isso seria uma estupidez completa. Acho impressionante que alguém acredite nestas coisas. Se eles existem jamais saberemos"

 

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